Os avanços tecnológicos estão transformando escritórios de advocacia e departamentos jurídicos das empresas. O cenário de um mundo hiperconectado e humanizado exige que os profissionais da área, o “Advogado 4.0”, desenvolvam habilidades não só tecnológicas como comportamentais, passando por questões como jurimetria, análise de dados, ferramentas, modelos e processos.
O tema foi debatido no 7º Summit Jurídico realizado pela Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (ACREFI) na segunda-feira (28/6).
“Fica bem difícil hoje para o advogado que não tem uma veia de gestor e não consegue entender todas essas diretrizes. Isso é uma exigência agora dentro de organizações”, disse Cintia M. Ramos Falcão, Consultora Jurídica da ACREFI, que fez mediação do evento. Ela ressaltou ainda que, só a partir deste ano, foram incluídas matérias como direito digital e formas consensuais de soluções de conflitos nas grades curriculares do curso de direito. “Coisas que a gente usa já há muito tempo não estavam no radar da graduação, o que deveria estar há muito tempo”, afirmou.
Para o novo coordenador da Comissão de Assuntos Jurídicos da ACREFI, Raphael Cordeiro, quem precisa lidar com contenciosos em grande volume, por exemplo, deve entender o papel relevante da jurimetria. Segundo ele, a aplicação de modelos estatísticos na advocacia se tornou importante hoje em dia na hora das análises e definições das melhores estratégias.
“Hoje a gente tem grande desafios, não são novos, mas sempre são grandes. Em um país como o nosso, que é continental, a lei é aplicada de formas diferentes dependendo da região. Como a gente estrutura isso, toma as melhores decisões e tem as melhores estratégias para cuidar desse contencioso e para ter também ter uma boa experiência para o nosso cliente?”, questionou.
Sílvia Gomes Piva, fundadora da Nau d’Dês, sócia do GHBP Advogados e pesquisadora do IEA/USP, avalia que há um desafio muito grande na carreira jurídica porque as mudanças não são apenas tecnológicas, como alterações demográficas, escolhas individuais e movimentos geracionais. “O profissional jurídico tem que lidar com a confiança do cliente e precisa estar antenado com todas as coisas que estão acontecendo ao redor dele. É algo muito maior do que esse direito aqui, estamos falando de todos os segmentos de negócios, de toda a complexidade que envolve a nossa existência porque diz respeito à nossa forma de pensar. Se esse profissional não estiver atento a isso, ele tem um risco muito grande de trazer não mais valor no trabalho que entrega”, pontuou.
A pesquisadora afirmou ainda que as habilidades digitais vão permitir que o profissional jurídico entregue mais valor para o seu trabalho. “Ele vai conseguir pensar em possibilidades, outros tipos de soluções dentro da interface e, mais, onde estamos inseridos neste momento. Apesar desse mundo estar cada vez mais híbrido, a gente não tem um lado só. Nós estamos ‘onlife’, essa é a nossa vida hoje. Precisamos dessa interface, somos tecnodependentes”, acrescentou.
Christiano Xavier: Sócio-fundador da Future Law, da Future Law Studio, da Legal Service Designer e da Account Law, falou sobre os avanços das inovações tecnológicas nos departamentos jurídicos em grandes empresas. Segundo ele, há um crescimento acelerado em projetos nas empresas. “E não é uma mudança só no departamento jurídico, mas a necessidade de fazer mais com menos. É uma tendência global, pois há uma busca de ter e reter talentos – até porque, as novas gerações estão preferindo trabalhar em startups que têm uma hierarquia mais fluida, funcionam de maneira mais orgânica e apostam no novo e em uma cultura de diversidade. Então a gente vê esse movimento e o jurídico sendo forçado a ir nessa direção”, ressaltou.
Vanessa Vilarino Louzada, CEO da Lawtech Deep Legal Analytics, co-fundadora da Rede Tear e investidora anjo; destacou a importância da análise estruturada de dados para área jurídica em meio a um mercado financeiro que enfrenta o contencioso massificado e de volume.
“O fato é que a tecnologia se instalou, existe nos nossos escritórios e departamentos jurídicos. Nesse contexto, caminhamos para uma advocacia muito mais analítica, data driven (orientado por dados). Temos sorte de estar vivendo esse período aberto para essa questão de inovação, não só de metodologias, mas da tecnologia. Quando pensamos na influência empírica do direito e a tecnologia com a inteligência artificial impulsionando processos de uma maneira em geral, temos um campo que é muito fértil”, alertou.
Em relação a habilidades do profissional da área, para Vanessa, não há como fugir do desenvolvimento do data driven e da necessidade de um posicionamento mais analítico. Isso significa entender e analisar os dados para poder de fato participar do seu ciclo. “É entender o que eles entregam, analisar e questionar esses dados e contar isso para o cliente de uma forma estruturada e estratégica, que vai gerar mais rendimento e menos prejuízo. No final dia, é isso que cliente quer: um perfil totalmente atrelado ao negócio e a relação de confiança, que exige necessariamente um desenvolvimento analítico de maturidade, pensando em toda a estruturação do dado. Com as nossas análises sendo baseadas por dados, conseguimos ser muito mais assertivos e passar uma relação de confiança e de autoridade como profissionais muito maior e mais direcionada ao negócio”, explicou.
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