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Inovação jurídica: uma realidade inevitável?

A presença da tecnologia em escritórios de advocacia traz desafios bem-vindos e proveitosos para a evolução da área jurídica. Por Reinaldo Nagao

Já há alguns anos, o conceito de transformação digital invadiu as empresas dos mais diferentes setores da economia. Com o avanço e evolução dos recursos tecnológicos disponíveis e uma consequente mudança do comportamento por parte das pessoas e consumidores, tornou-se necessário que as organizações se adaptassem a essa nova realidade, na qual a tecnologia se posiciona como ponto central e fundamental.

 

E o porquê disso não é segredo: a disponibilidade e utilização de ferramentas e serviços tecnológicos podem atribuir muito mais eficiência, agilidade e controle a processos produtivos, resultando muitas vezes em redução de custos para as companhias.

 

Sendo assim, muito já se discute sobre gestão da inovação em inúmeras áreas, como a da saúde, do varejo, serviços financeiros, recursos humanos e, inclusive, nos mais diversos campos do Direito.  Aderir a essa transformação tecnológica, portanto, é imperativo não apenas pela renovação e otimização de processos em si, mas pela própria sobrevivência em um contexto que cada vez mais engloba o digital e no qual, novas demandas de eficácia, experiência do cliente – além de metodologias ágeis de gestão – impulsionam a economia como um todo. 

 

No entanto, como realizar essa mudança de paradigma no mundo jurídico, comumente associado à burocracia de seus processos? E o que se perde se a área ignorar essa nova realidade?

 

A digitalização como primeiro passo

De início, é interessante notar que a morosidade em processos e na gestão de contenciosos jurídicos poderiam gradativamente ser transformadas a partir do uso de tecnologia, em um momento de crescente digitalização do setor. Segundo informações do relatório Justiça em Números 2020, realizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2019 constavam 77,1 milhões de processos em tramitação no Brasil, dentro de um contexto em que 90% das ações judiciais foram iniciadas em um computador, celular ou tablet.

 

Com a confirmação – afirmada pelo próprio CNJ – da tendência de virtualização da Justiça Brasileira e a grande quantidade de informações disponíveis digitalmente, abre-se espaço para a aplicação de práticas e soluções voltadas à inteligência artificial para automatização de processos, computação em nuvem para o armazenamento de dados, e data analytics para jurimetria, tomada de decisões e previsão de resultados.

 

Nesse sentido, é interessante que o segmento e os profissionais do setor (advogados, juízes, consultores, etc.) passem a se familiarizar com uma presença cada vez maior das lawtechslegaltechs e do surgimento exponencial de soluções e serviços de base tecnológica voltados ao setor jurídico, com o objetivo de otimizar processos e facilitar o dia a dia dos escritórios.

 

Cultura da inovação

Naturalmente, dar os primeiros passos rumo à transformação digital não é uma tarefa simples, independentemente da empresa e do segmento no qual ela está inserida. Direcionando a atenção ao setor jurídico, antes de mais nada, é fundamental que se crie uma cultura ampla de inovação nos escritórios, de forma que ela faça parte de todos os profissionais atuantes na empresa jurídica em questão.

 

Apresentar tendências do setor, possibilidades de aplicação de tecnologias e, principalmente, seus resultados – sejam eles internos ou externos – mostra-se um bom demonstrativo de como um escritório pode se beneficiar dessa transformação, o que facilita o caminho para se pavimentar um ambiente de inovação dentro do ecossistema macro do Direito.

 

Ou seja: passa a se tornar cada vez mais necessário que tanto os novos profissionais quanto quem já está estabelecido no mercado, que se familiarizem com as ferramentas disponíveis e suas respectivas aplicações, de forma que possam não apenas introduzi-las e fomentá-las no dia a dia de sua atuação, mas também criar novas oportunidades e possibilidades de atuação dentro da profissão.

 

Nos últimos anos, tais práticas têm ganhado mais relevância, as já citadas lawtechs e legaltechs já têm estado muito mais presentes no segmento jurídico, apresentando bons resultados e trazendo impacto positivo aos escritórios que se movimentam em direção à transformação digital. Logo, a movimentação já está acontecendo, independentemente de uma suposta resistência da área a novas soluções e ferramentas tecnológicas. Como uma realidade inevitável, o setor e seus profissionais só têm a ganhar nesse novo contexto, mas muito a perder se optarem por ignorá-lo.

 

Ademais, com o suporte da inovação, os advogados poderão se concentrar em tarefas mais estratégicas de seus respectivos escritórios, contando com a tecnologia como um suporte para gerenciar de modo mais ágil contenciosos e como um apoio para a tomada de decisões com base em dados concretos.

 

Para isso, é preciso que os escritórios jurídicos entendam o cenário que se desenha e se adaptem a ele conforme suas necessidades, de maneira que possam melhorar suas práticas e processos, obtendo, assim, resultados expressivos em um ambiente no qual a mudança é a nova realidade. Uma realidade que, sem dúvidas, traz desafios, mas sobretudo oportunidades para aqueles que estiverem dispostos a olhar para o futuro.

 

 

Reinaldo Nagao é Sócio no FNCA Advogados. Formado em Direito, o executivo possui mais de 12 anos de atuação no mercado, com especialização no departamento de Direito Tributário.

Escrito por Redação

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