Quando se fala em assédio moral, a primeira coisa que vem à mente é a figura de um chefe expondo um subordinado a situações humilhantes e constrangedoras de forma repetitiva e prolongada. O que pouca gente sabe é que esta não é uma conduta cometida exclusivamente por quem tem poder de liderança. O assédio moral se manifesta em todos os níveis hierárquicos nas relações de trabalho.
O advogado especialista em compliance e autor do livro Entrevista Forense Corporativa, André Costa, afirma que o assédio contra um líder é pouco abordado dentro das empresas e, por isso, os funcionários nessa posição ainda enfrentam obstáculos para denunciar. “A vítima em posição de liderança sofre muito e tem dificuldade em relatar, porque as pessoas acreditam que ela tem de gerir a equipe e saber lidar com a situação mesmo tratando-se de um caso claro de assédio moral”, diz.
Em alguns casos, o relato do trabalhador é recebido com descrédito. “Ele deixa de falar o que está acontecendo porque teme que a diretoria duvide de sua competência e acredite que ele não é capaz de gerir a equipe. Então, sofre e adoece até não aguentar mais e pedir demissão”.
Segundo o Tribunal Superior do Trabalho (TST) e o Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT), o assédio pode acontecer de forma vertical descendente (quando um funcionário é assediado por alguém de nível hierárquico superior); vertical ascendente (quando um subordinado ou grupo assediam o líder); horizontal (que acontece entre pessoas do mesmo nível de hierarquia); e o assédio moral misto (que ocorre quando um trabalhador é assediado pelos superiores e também por colegas de trabalho).
O assédio vertical ascendente possui características diferentes das formas mais conhecidas. “A equipe começa a sonegar informações, distorcer dados, fazer piadas e constranger para que a pessoa saia da empresa. Já atendi casos em que os líderes tomavam remédios, tiveram problemas pessoais provocados pelo assédio de uma equipe. Gera muito sofrimento”, conta o advogado.
A falta de conhecimento e preparo são uma das dificuldades enfrentadas pelas organizações para prevenir e combater o crime levando à subnotificação dos casos. “Os canais de denúncia e até o Judiciário estão preparados para receber denúncias de líderes que cometem esse tipo de crime, mas quando acontece de forma inversa interpretam como se fosse uma incapacidade da gestão. A vítima sofre e ainda tem sua competência profissional colocada à prova”, pontua Costa.
Como denunciar
Pessoas em cargos de liderança têm os mesmos direitos dos outros trabalhadores de uma corporação e caso sejam vítimas devem denunciar os agressores pelos canais oficiais da empresa, orienta o advogado que atua há mais de 10 anos investigando casos de assédio sexual e moral no ambiente corporativo. “Ele deve documentar, coletar provas, reunir testemunhas e reportar nos canais de denúncia da empresa que está sendo vítima”, aconselha. “Independentemente de sua posição, todo funcionário precisa de respeito e de um ambiente seguro para trabalhar”, completa o especialista.
André Costa é entrevistador forense e
advogado especializado em assédio moral
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