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Escândalos provam que empresas não estão preparadas para lidar com assédio

Advogado especializado em compliance explica que um código de ética e conduta que funcione na prática, aliado a treinamentos preventivos, evita danos e prejuízos

A normalização de condutas abusivas prejudica o combate ao crime - Shutterstock

Os recentes escândalos de denúncias de assédio moral e sexual envolvendo o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo, e o jornalista esportivo Carlos Cereto, ex-funcionário da Globo, revelam que as empresas e entidades ainda não estão totalmente preparadas para lidar com essas práticas e precisam investir em programas de prevenção e reforço ético periódico.

Segundo o entrevistador forense, escritor e advogado especialista em compliance, André Costa, os dois casos evidenciam a necessidade de mudanças estruturais e culturais dentro das corporações para combater esse tipo de crime. As apurações das denúncias, diz o advogado, precisam ser estruturadas e abrangentes, para interromper o ciclo de abusos.

Costa, que atua na investigação de casos de assédio sexual e moral nas companhias há mais de 10 anos, explica que essas condutas estão tão enraizadas na nossa sociedade que os funcionários tendem a normalizar práticas nocivas e até criminosas, como o assédio sexual. “Funcionários antigos tendem a achar que não existe assédio simplesmente porque já se acostumaram com a situação e usam a justificativa de que sempre foi assim”, conta.

André afirma que as companhias precisam lidar com o tema para criarem soluções que garantam a integridade física e mental dos empregados. “É importante realizar pesquisas de clima, analisar as respostas segmentadas pelo tempo de empresa e a posição dos funcionários. O mesmo deve ser feito com recém-contratados, por meio de entrevistas forenses, como uma forma de observar esses choques comportamentais entre quem já está “acostumado” com um comportamento indevido repetitivo e quem acabou de se deparar com ele”, pontua o especialista.

Essa normalização é um dos obstáculos que desmotivam as denúncias enquanto o empregado está na empresa e dificulta a mudança dessa cultura nas organizações. “Alguns gestores acabam sendo omissos sob a justificativa de que aquele assediador dá bons resultados, mas rendimentos astronômicos sem um balizador ético são, na verdade, catastróficos. Líderes assediadores dão ótimos resultados no curto prazo e quebram a sua empresa no médio”, afirma o advogado.

Prevenção
O assédio pode, por vezes, ser silencioso e difícil de detectar, por isso, os treinamentos para todos os setores, desde o operacional até a alta gestão, são fundamentais para combater e prevenir o crime. “Os treinamentos precisam ser frequentes para os funcionários entenderem que esse tipo de comportamento abusivo não é normal, que existem formas de denunciar e que a gestão apoia essas vítimas”, conta.

Segundo o especialista, as companhias precisam ter um código de ética e conduta. “Esse código precisa funcionar na prática e ser claro para todos os empregados, seja por meio de reuniões, palestras e até mesmo happy hours, porque se a empresa não tratar o assunto de forma adequada, o Judiciário e a mídia certamente irão refletir essa postura omissa”, ressalta.

André Costa é entrevistador forense e advogado
especialista em assédio moral e sexual

 

Escrito por Redação

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